VIGILÂNCIA ONCOLÓGICA E INIQUIDADES NO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: COMPLETUDE DA INFORMAÇÃO E SOBREVIDA GLOBAL NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ESPÍRITO SANTO
Nome: SARA ISABEL PIMENTEL DE CARVALHO SCHUAB
Data de publicação: 29/04/2025
Banca:
| Nome |
Papel |
|---|---|
| LARISSA SOARES DELL'ANTONIO | Examinador Externo |
| LUIS CARLOS LOPES JUNIOR | Presidente |
| MARCIA VALERIA DE SOUZA ALMEIDA | Examinador Interno |
| WESLEY ROCHA GRIPPA | Coorientador |
Resumo: O câncer do colo do útero constitui um importante problema de saúde pública no Brasil,
especialmente em contextos de vulnerabilidade social e desigualdade regional. O fortalecimento da vigilância
oncológica e da linha de cuidado depende da qualidade da informação disponível nos Registros Hospitalares
de Câncer (RHC), bem como da compreensão do perfil assistencial das pacientes e dos fatores associados à
sobrevida. Esta dissertação, composta por três estudos, analisou de forma articulada a completude dos dados,
o perfil clínico-assistencial e a sobrevida específica de mulheres com câncer do colo do útero na Rede de
Atenção Oncológica (RAO) do Espírito Santo (ES). Objetivo: Analisar, de forma integrada, a qualidade da
informação e a sobrevida específica de mulheres diagnosticadas com câncer do colo do útero na RAO do ES,
no período de 2000 a 2020, com base nos dados dos RHC. Métodos: Estudo observacional retrospectivo,
desenvolvido a partir de dados secundários dos RHC do Espírito Santo. O 1oartigo analisou 10.140 casos
entre 2000 e 2020, utilizando o teste de Mann-Kendall para verificar tendência temporal da incompletude e
o teste de Friedman para avaliar variações na qualidade da informação. O 2o artigo consistiu em estudo de
coorte retrospectiva com 7.633 mulheres diagnosticadas entre 2000-2016, vinculando os RHC ao Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM/ES) via linkage determinístico. Estimou-se a sobrevida específica em
cinco anos pelo método de Kaplan-Meier e analisaram-se os fatores associados à mortalidade por regressão
de Cox. Resultados: No primeiro estudo, a maioria das variáveis apresentou completude classificada como
excelente (<5%). No entanto, variáveis clínicas relevantes como estadiamento TNM, histórico familiar de
câncer e estado da doença ao final do tratamento hospitalar apresentaram incompletude muito ruim (>50%).
Observou-se tendência de piora significativa na completude para as variáveis histórico de consumo de
bebida alcoólica (p=0,001), histórico de consumo de tabaco (p=0,007) e estado da doença ao final do
primeiro tratamento (p<0,001). Por outro lado, houve tendência de melhora na completude para 18 variáveis,
incluindo clínica de início do tratamento (p<0,001) e ano da triagem (p=0,005). A sobrevida específica global
em cinco anos foi estimada em 80,3% (IC95%: 79,4%–81,2%). Mulheres com idade 70 anos apresentaram
93,5% mais risco de morte por câncer cervical (HR=1,935; IC95%: 1,520–2,464; p<0,001). O estado
conjugal sem parceiro esteve associado a maior risco de óbito: viúvas/divorciadas (HR=1,187; IC95%:
1,017–1,386; p=0,030) e solteiras (HR=1,266; IC95%: 1,092–1,468; p=0,002). A presença de metástase à
distância aumentou em 3,9 vezes o risco de mortalidade específica (HR=3,945; IC95%: 3,265–4,766;
p<0,001). A escolaridade superior foi fator protetor (HR=0,621; IC95%: 0,406–0,951; p=0,028). Quanto à
primeira terapêutica, os riscos de mortalidade aumentaram significativamente para os grupos tratados com
quimioterapia (HR=19,576; IC95%: 11,819–32,423), radioterapia (HR=15,072; IC95%: 11,291–20,121) e
radioterapia combinada à quimioterapia (HR=17,953; IC95%: 13,319–24,199), em comparação à cirurgia.
Conclusão: A dissertação evidencia que, embora a completude dos RHC seja satisfatória para a maioria das
variáveis, ainda há importantes lacunas em registros clínicos estratégicos. A sobrevida das mulheres com
câncer do colo do útero está fortemente influenciada por fatores sociodemográficos e clínicos, revelando a
urgência de estratégias de rastreamento mais efetivas, padronização dos registros e ações que promovam a
equidade no acesso ao diagnóstico e tratamento oncológico. Os achados reforçam a importância dos RHC
como ferramenta de vigilância, gestão e planejamento de políticas públicas em saúde.
