FATORES ASSOCIADOS À SOBREVIDA GLOBAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER NO ESPÍRITO SANTO E SUA RELAÇÃO COM O ÍNDICE BRASILEIRO DE PRIVAÇÃO
Nome: JONATHAN GRASSI RODRIGUES
Data de publicação: 19/06/2024
Banca:
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Papel |
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ALINE NEVES PESSOA ALMEIDA | Examinador Interno |
LARISSA SOARES DELL'ANTONIO | Examinador Externo |
LUIS CARLOS LOPES JUNIOR | Presidente |
REGINA APARECIDA GARCIA DE LIMA | Examinador Externo |
THIAGO DIAS SARTI | Examinador Interno |
Resumo: O câncer infantojuvenil (entre 0 e 19 anos), correspondem de 1 a 4% de todos os tumores
malignos na maioria das populações. Nas últimas quatro décadas, ocorreram avanços substanciais no
tratamento do câncer infantojuvenil e acompanhando esses avanços, técnicas de análise de
sobrevivência, assumiram um papel importante nos últimos anos, principalmente após o
desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia dos métodos estatísticos, com inúmeras aplicações,
principalmente na Saúde Coletiva. Objetivo: Investigar a ocorrência de neoplasias malignas
pediátricas no estado do Espírito Santo; avaliar a qualidade e completude dos dados, a sobrevida global
e identificar os fatores associados bem como sua relação com o Índice Brasileiro de Privação (IBP).
Métodos: Estudo observacional analítico. A coorte foi constituída pelos casos novos diagnosticados
com neoplasia maligna primária de qualquer morfologia em crianças e adolescentes entre 0 a 19 anos
de idade no período de 10 anos (entre 2007 e 2015) do Espírito Santo (ES), Brasil. Dados secundários
foram coletados a partir do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) do Hospital Estadual Infantil Nossa
Senhora da Glória (HEINSG) bem como do Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM/ES. Na
análise dos dados foi utilizado o método de Kaplan-Meier e na análise multivariada, foi utilizado o
modelo de ricos proporcionais de Cox. No modelo final, permaneceram as variáveis que apresentarem
níveis de significância abaixo de 5%. As análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se os
softwares livres RStudio (versão 2022.07.2) e R (versão 4.1.0). Resultados: Verificou-se que as
variáveis com maior incompletude incluíram raça/cor (17,24%), nível de escolaridade (51,40%), TNM
(56,88%), estado da doença ao final do primeiro tratamento (12,09%), histórico familiar de câncer
(79,12%), histórico de consumo de álcool (39,25%), histórico de consumo de tabaco (38,32%) e tipo de
clínica de admissão (10,28%). Uma tendência significativa de decréscimo da completude foi observada
para raça/cor, TNM e histórico de consumo de tabaco. A idade média foi de 7,85 anos; a maioria era
pardos (53,32%), na faixa etária de 1-4 anos (29,47%) (p=0,008). Leucemias, seguido dos tumores do
sistema nervoso central e os linfomas foram os mais frequentes no sexo masculino (p=0,006) com
diferença significativa entre as faixas etárias apresentando maior ocorrência entre 5 e 9 anos (p=0,007).
A presente série histórica mostrou tendência decrescente no número de casos novos (p<0,001). Ao final
do tratamento, observou-se a remissão completa da doença em 30,57% dos casos. A sobrevida global
de cinco anos foi de 76% (IC95%: 0,7360,790) em 1 ano, 69% (IC95%: 0,6650,724) em 2 anos e
62% (IC95%: 0,5870,650) em 5 anos. As meninas apresentaram um risco 28% menor de morrer de
câncer em 5 anos em comparação com os meninos (HR=0,72; IC95%: 0,5790,901; p=0,004). As
maiores taxas de sobrevida foram encontradas para indivíduos com linfomas de Hodgkin,
neuroblastoma e ganglioneuroblastoma. As menores taxas de sobrevida em 5 anos foram observadas
para pacientes com leucemia mieloide aguda. A sobrevida global estimada em 5 anos foi de 61%
(IC95%: 0,5850,651; p=0,1) para crianças da cidade menos desfavorecida do estado segundo o IBP.
Observamos um aumento significativo de risco para morte entre crianças e adolescentes nas cidades
mais desfavorecidas (Q5) (HR=2,12; IC95%:1,064,23; p= 0,034). Conclusão: Em síntese, embora a
maioria das variáveis manteve excelente completude, a tendência de aumento da incompletude em
raça/cor e a tendência de diminuição em TNM destacam a importância de RHCs confiáveis e
completos para cuidados personalizados com câncer, planejamento de políticas públicas e realização de
pesquisas sobre controle do câncer. Nossos achados indicaram uma queda gradual na incidência de
câncer em crianças e adolescentes ao longo da série temporal avaliada com maior prevalência de
leucemias em crianças do sexo masculino e maior ocorrência de tumores ósseos malignos e carcinomas
em adolescentes de 10 a 14 anos. Evidenciamos na pressente série histórica uma sobrevida geral de
cinco anos de 62% para pacientes diagnosticados entre 2007-2015 e que foi associado ao sexo e aos
grupos de diagnóstico e está intimamente relacionada ao contexto socioeconômico. Ademais, o nível
socioeconômico estimado através do IBP esteve associado a pior sobrevida entre crianças e
adolescentes com câncer. As crianças e adolescentes socioeconomicamente vulneráveis podem
constituir um grupo de pacientes de alto risco, que devem ser identificadas no momento do diagnóstico
para manejo personalizado e em tempo oportuno. Algumas abordagens podem resultar em melhores
taxas de sobrevivência, como investir em educação pública, melhorar a formação de profissionais de
saúde, na detecção do câncer infantil, fortalecer o acesso aos serviços de oncologia, pesquisa clínica e
cooperação internacional.