SOBREVIDA GLOBAL DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL E SEUS FATORES ASSOCIADOS
Nome: RAPHAEL MANHÃES PESSANHA
Data de publicação: 16/07/2024
Banca:
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Papel |
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FRANCIELE MARABOTTI COSTA LEITE | Examinador Interno |
LARISSA DELL ANTONIO PEREIRA | Examinador Externo |
LUIS CARLOS LOPES JUNIOR | Presidente |
Resumo: Introdução: Apesar dos avanços no tratamento, o câncer de mama ainda é responsável por muitas mortes, sendo a
quinta principal causa de mortalidade por câncer em todo o mundo, com 685.000 óbitos. No Brasil, o câncer de mama
ocupa a primeira posição em todas as regiões brasileiras, excluindo os tumores de pele não melanoma. A análise de
sobrevida é crucial para avaliar a eficácia dos tratamentos disponíveis e medir o impacto das políticas de saúde sobre
a longevidade e a qualidade de vida das pacientes. Estudos de sobrevida também podem revelar disparidades no
tratamento e nos desfechos, permitindo que políticas sejam ajustadas para atender melhor às necessidades dos
pacientes. Além disso, a ausência de estudos focados na sobrevida das mulheres com câncer de mama no Espírito
Santo (ES) representa uma lacuna importante. Objetivo: Investigar a ocorrência de neoplasias malignas da mama no
estado do Espírito Santo; avaliar a qualidade e completude dos dados bem como a sobrevida global de mulheres com
câncer de mama e seus fatores associados. Métodos: Dados secundários foram coletados via Ficha de Registro do
Tumor (FRT) a partir dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) de pacientes que receberam atendimento em algum
hospital da Rede de Atenção Oncológica (RAO) do ES, e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), no
período entre 2000 a 2020. A coorte consistiu de mulheres com idade superior a 18 anos, que foram diagnosticadas
com câncer de mama, de acordo com a CID-10: "C50: Neoplasia Maligna da Mama", com exame anatomopatológico
e em acompanhamento na RAO do ES. Para análise de dados, foi realizada uma análise descritiva do perfil
epidemiológico dos pacientes diagnosticados com câncer de mama, além de uma análise de completude das variáveis
epidemiológicas dos RHC do ES, onde as incompletudes dos dados foram classificadas como excelente (< 5%), boa
(entre 5% e 10%), regular (entre 11% e 20%), ruim (entre 21% e 50%) e muito ruim (> 50%), de acordo com o
percentual de ausência de informação. Para análise de sobrevida, procedeu-se com o método de linkage
determinístico, dos registros da FRT do Integrador do RHC com os registros do SIM/ES. Para à análise de sobrevida
em 5 anos, usou-se os métodos de Kaplan-Meier e LogRank. Ademais o modelo de risco proporcional de Cox para
causa de morte específica foi usado na análise multivariada. Para todas as análises estatísticas alfa foi fixado em 5%.
Resultados: Foram registrados 16.587 casos de câncer de mama no período de 2000 a 2020. As variáveis alcoolismo
(p<0,001), tabagismo (p<0,001), história familiar de câncer (p<0,001), estado conjugal (p<0,001), tiveram uma
incompletude com tendência de decréscimo. A idade média das mulheres foi de 55 anos com desvio padrão de 15
anos. A faixa etária com maior número de casos (54,0%) foi a de 41-60 anos, 57,42% eram pardas, 51,70% casadas,
30,80% tinham ensino fundamental incompleto, residentes da região Metropolitana do estado (81,70%). Mais da
metade dos casos (75,42%) eram casos analíticos, encaminhadas do SUS (59,70%), não tiveram ocorrência de mais
de um tumor primário (94,21%), cujo tipo histológico mais comum foi o carcinoma de ductos infiltrantes (76,03%), e
estadiamento II em 26,75% dos casos, com tratamentos multimodais como mais comum (60,09%). A coorte hospitalar
revelou que 8,184 (67,66%) das mulheres sobrevieram até o final do tratamento, 2947 (24,28%) morreram por câncer
de mama (CM) e 9,075 (8,06%) morreram por outras causas. A sobrevida-específica global foi de 82% em 5 anos. A
análise multivariada revelou que a raça é um fator de risco de morte específica por CM, onde mulheres negras
apresentam 60% mais risco de mortalidade por CM do que mulheres brancas (HR=1,601; IC95%:1,303-1,967;
p<0,001). Em relação as variáveis clínicas, a maioria (43,11%) não tiveram diagnostico e tratamentos anteriores, e o
carcinoma ductal invasivo foi o mais frequente (96,49%). Mulheres com estadiamentos iniciais e in situ (SG=0,996;
IC95%: 0,990-1,000) e estágio I (SG=0,972; IC95%:0,965-0,979) tiveram maior sobrevida global do que aquelas em
estadiamento avançado IV (SG=0,323; IC95%:0,314-0,374; p<0.001). As análises multivariadas revelaram que
mulheres não encaminhadas do SUS (rede privada) apresentaram uma redução no risco de mortalidade (HR:0,837;
IC95%:0,750-0,934; p=0,001) quando comparadas àquelas encaminhadas do SUS (rede pública). As mulheres que
tiveram metástase a distância, apresentaram um risco de 49% a mais de mortalidade (HR:1,49; IC95%:1,143-1,948;
p=0,003). Conclusões: Nossos achados evidenciam a necessidade de abordagens de saúde pública direcionadas
para reduzir as desigualdades socioeconômicas e raciais na sobrevivência ao câncer de mama. A disparidade
observada nos perfis de mortalidade indica que intervenções focadas em rastreamento precoce, diagnóstico acessível
e tratamentos personalizados são cruciais. Políticas que garantam acesso equitativo aos cuidados de saúde,
especialmente para mulheres de baixa escolaridade e de regiões desfavorecidas, são fundamentais para melhorar os
prognósticos e diminuir as iniquidades no tratamento do câncer de mama. É premente que haja um investimento
contínuo e significativo ao acesso as ações e serviços de saúde pública, visando o rastreamento, a detecção precoce
e o tratamento adequado do câncer, garantindo assim um atendimento mais eficaz e oportuno para as pacientes.