Lacunas assistenciais no tratamento de transtornos mentais na região metropolitana de São Paulo, Brasil

Nome: MARIANE HENRIQUES FRANÇA
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 25/05/2022
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
MARIA CARMEN MOLDES VIANA Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
DENISE RAZZOUK Examinador Externo
EDSON THEODORO DOS SANTOS NETO Examinador Interno
LUIZ CARLOS DE ABREU Examinador Interno
MARIA CARMEN MOLDES VIANA Orientador
WANG YUAN PANG Examinador Externo

Resumo: Introdução: estudos comprovam que a prevalência dos transtornos mentais (TM) na população geral é elevada, sendo os transtornos do humor e de ansiedade os mais prevalentes na população geral. A alta prevalência dos TM, unida ao fato de persistirem de forma crônica, resulta como a principal causa de incapacidade e custo social no mundo, gerando alta carga social e sobrecarregando os serviços de saúde. As intervenções terapêuticas imediatas têm um papel crucial no prognóstico dos TM, prevenindo a cronicidade e a incapacitação. Diminuir o tempo para o contato imediato com o tratamento após o início do TM é um passo crucial para aumentar as probabilidades de recuperação por meio da disponibilidade de tratamento custo- eficazes. A presente tese de doutorado tem como objetivos: 1) analisar as lacunas na cobertura de tratamento de TM comuns na Região Metropolitana de São Paulo, Brasil; 2) estimar o atraso no contato com o tratamento após o primeiro diagnóstico de TM e analisar os preditores sociodemográficos; e por fim 3) analisar as lacunas relacionadas à cobertura efetiva de tratamento entre indivíduos diagnosticados com TD e seus preditores, desenvolvendo o modelo teórico de “cascata de cobertura efetiva” para o Brasil, identificando lacunas críticas de qualidade ajustadas à adesão do usuário e à prestação de cuidados farmacológicos e psicoterapêuticos. Metodologia: o São Paulo Megacity é um estudo epidemiológico transversal, de base populacional, desenvolvido para avaliar a morbidade psiquiátrica em uma amostra representativa de adultos residentes em domicílios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), com taxa global de resposta de 81,3%. Os dados foram coletados entre maio/2005 e abril/2007 utilizando o instrumento estruturado da World Mental Health Survey, Composite International Diagnostic Interview (CIDI 3.0). O primeiro estudo considerou a amostra total do estudo (n=5.037). O segundo e o terceiro estudo consideraram a amostra dos entrevistados que preencheram os critérios do DSM-IV para TD nos últimos 12 meses (n=491). Informações retrospectivas sobre a idade de início dos TM foram obtidas por meio de perguntas que consideraram o viés de memória do entrevistado para o primeiro tratamento realizado. A cobertura efetiva do tratamento foi definida como a combinação adequada do tratamento de farmacoterapia e psicoterapia. O modelo estrutural de “cobertura de contato” incluiu ajustes para qualidade do atendimento e adesão do usuário. A correlação do contato com o tratamento foi analisada utilizando a análise de sobrevida. Foi analisada a associação de características socioeconômicas e demográficas, seguro de saúde e gravidade clínica com a cobertura efetiva do tratamento e seus componentes, incluindo tipo de tratamento, qualidade do tratamento e adesão. Resultados: a maioria das pessoas com TM ao longo da vida entraram em contato com o tratamento de saúde. O contato foi mais frequente entre aqueles em tratamento devido aos transtornos de humor (94,4%) do que entre aqueles com transtorno de ansiedade (63,6%) e transtornos por uso de substâncias (46,4%). O atraso médio entre aqueles que eventualmente fizeram contato com o tratamento de saúde variou de 3 a 13 anos para transtornos de humor, de 1 a 36 anos para ansiedade e de 8 a 14 anos para transtornos por uso de substâncias. O início precoce do TM foi associado a menores probabilidades de contato com o tratamento. O baixo contato com os tratamentos de saúde após o início dos primeiros sintomas dos TM foi relacionado ao tipo de cobertura, à acessibilidade, à adesão e aos preditores sociodemográficos. Dentre aqueles com TD (n=491), 164 indivíduos (33,3%) fizeram contato com os serviços de saúde. Dentre estes, apenas 25,2% receberam cobertura efetiva de tratamento, o que representa 8,5% dos necessitados. As lacunas críticas do serviço foram referentes ao uso de medicação psicotrópica (12,2 pontos percentuais), uso de antidepressivos (6,5), controle adequado da medicação (6,8), recebimento de psicoterapia (19,8). Ter idade avançada, possuir plano de saúde privado e ter episódio de TD com gravidade moderada foram preditores para o contato com os serviços de saúde. Conclusões: este estudo demonstrou a baixa proporção e a grande demora com o contato do tratamento após o aparecimento dos sintomas dos TM no Brasil. Além disso, evidenciou as enormes lacunas de tratamento para TD, não apenas considerando a cobertura de contato, mas também identificando lacunas específicas de qualidade na prestação de cuidados farmacológicos e psicoterapêuticos. Esta tese destaca a importância de olhar para além do foco tradicional da avaliação dos serviços de saúde, que normalmente tem se baseado na análise das taxas de busca e acessibilidade ao tratamento. O tratamento efetivo deve ser pauta de políticas públicas de saúde não apenas para diminuir as lacunas de tratamento, mas principalmente para reduzir o intervalo de tempo que normalmente separa o início dos transtornos mentais do primeiro contato com o tratamento.

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