Consumo de bebidas e desfechos cardiometabólicos: Resultados do ELSA-Brasil
Nome: JORDANA HERZOG SIQUEIRA
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 22/02/2022
Orientador:
Nome | Papel |
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MARIA DEL CARMEN BISI MOLINA | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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ADRIANA LÚCIA MEIRELES | Examinador Externo |
MARIA DE FÁTIMA HAUEISEN SANDER | Examinador Externo |
JOSE GERALDO MILL | Examinador Interno |
ELIZABETE REGINA ARAÚJO DE OLIVEIRA | Examinador Interno |
MARIA DEL CARMEN BISI MOLINA | Orientador |
Resumo: O consumo de bebidas alcoólicas e não alcoólicas é comum em muitas sociedades e seus níveis de consumo estão associados à ocorrência de doenças crônicas. Nesse sentido, é importante investigar o perfil sociomodegráfico e de saúde dos consumidores dessas bebidas a fim de subsidiar políticas públicas mais eficazes. Além disso, há lacunas na literatura sobre os efeitos a longo prazo do consumo de bebidas açucaradas e não açucaradas na saúde cardiometabólica, sobretudo em populações de países de baixa e média, os quais passam por rápida transição nutricional. Dessa forma, objetivou-se estudar o consumo de bebidas alcoólicas e não alcoólicas segundo dados sociodemográficos, de saúde e localização geográfica, e investigar, prospectivamente, a relação entre o consumo de refrigerante e suco de fruta sem adição de açúcar e desfechos cardiometabólicos nos participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). O ELSA-Brasil é uma coorte multicêntrica composta por 15.105 servidores ativos ou aposentados de ambos os sexos, de 35 a 74 anos, de seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa (USP, UFMG, UFBA, UFRGS, UFES e Fiocruz). Foram utilizados os dados da linha de base (2008-2010) e da segunda avaliação (2012-2014). Dados sociodemográficos, de hábitos de vida e saúde, história médica e uso de medicamentos foram coletados por meio de questionário estruturado, em entrevistas durante visita aos centros de investigação. O consumo alimentar foi avaliado na linha de base por meio de questionário de frequência alimentar validado. A incidência acumulada dos desfechos (hiperuricemia [≥7,0 mg/dL para homens e ≥5,7 mg/dL para mulheres] e síndrome metabólica [Joint Interim Statement]) foi avaliada após 4 anos de seguimento. Os resultados foram descritos em três artigos originais. O primeiro manuscrito teve como objetivo descrever o consumo de bebidas alcoólicas e não alcoólicas na linha de base, segundo variáveis sociodemográficas, de saúde e localização. Foi observado que 8% do valor calórico total foi proveniente de bebidas não alcoólicas (5,6% = bebidas açucaradas), e 4% de bebidas alcoólicas (2,7% = cerveja). Os homens reportaram maior consumo de bebidas alcoólicas, e as mulheres, de bebidas não alcoólicas. Os maiores consumidores de bebidas não adoçadas com açúcar e de bebidas adoçadas artificialmente realizavam atividade física moderada/forte, eram ex-fumantes e relataram ter escolaridade alta. Perfil oposto foi verificado para as bebidas açucaradas. Indivíduos eutróficos relataram maior consumo de bebidas açucaradas e os obesos, as adoçadas artificialmente e cerveja. O consumo de bebidas alcoólicas variou com a
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idade (jovens: cerveja; idosos: vinho/destiladas) e escolaridade (baixa: cerveja/destiladas; alta: vinho). Café, suco natural e refrigerante foram as bebidas não alcoólicas mais consumidas e a cerveja, a alcoólica mais prevalente. A variação de consumo segundo a localização geográfica também foi evidenciada. O segundo e o terceiro manuscritos avaliaram, prospectivamente, a relação entre o consumo de refrigerante, suco de fruta sem adição de açúcar e desfechos cardiometabólicos (hiperuricemia e síndrome metabólica, respectivamente). Após 4 anos de seguimento, independetemente de variáveis potencialmente confundidoras, o maior consumo de refrigerante (homens: 401 ± 303 mL/dia; mulheres: 390 ± 290 mL/dia) aumentou o risco relativo de hiperuricemia em 30% (homens) e 40% (mulheres), e foi associado ao aumento nos níveis séricos de ácido úrico (homens: β = 0,14 mg/dL; IC95% = 0,41-0,24; mulheres: β = 0,11 mg/dL; IC95% = 0,00-0,21). O maior consumo de refrigerante (≥1 porção/dia = 250 mL/dia) elevou o risco relativo de síndrome metabólica (RR = 1,22; IC95% = 1,04-1,45), glicemia de jejum elevada (RR = 1,23; IC95% = 1,01-1,48) e pressão arterial elevada (RR = 1,23; IC95% = 1,00-1,54), enquanto o consumo moderado (0,4 a <1 porção/dia) aumentou o risco relativo de circunferência da cintura elevada (RR = 1,21; IC95% = 1,02-1,42). Após 4 anos de seguimento, o consumo de suco sem adição de açúcar não foi associado à hiperuricemia e à síndrome metabólica e seus componentes. Conclui-se que há importante participação calórica das bebidas alcoólicas e não alcoólicas na dieta dos participantes do ELSA-Brasil e associação do consumo dessas bebidas com dados sociodemográficos, de hábitos de vida e localização. Indivíduos que relataram maior consumo de refrigerante apresentaram piores hábitos de vida e condições de saúde, sendo que perfil oposto foi observado para os que relataram maior consumo de suco de fruta não adoçado com açúcar. Nenhuma associação prospectiva foi observada entre o consumo de suco de fruta sem açúcar e desfechos cardiometabólicos. O consumo elevado de refrigerante foi associado à incidência de hiperuricemia e síndrome metabólica, em uma coorte de servidores públicos adultos e idosos brasileiros.