Qorpo-Santo: um caso de fabricação de loucura no Brasil no século XIX.

Nome: EMANUELE LUIZ PROENÇA
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 14/03/2012
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
TÚLIO ALBERTO MARTINS DE FIGUEIREDO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ADAUTO EMMERICH OLIVEIRA Examinador Interno
ANALICE DE LIMA PALOMBINI Examinador Externo
TÚLIO ALBERTO MARTINS DE FIGUEIREDO Orientador

Resumo: A relação entre Qorpo-Santo e loucura tornou-se tema desta pesquisa depois de
despertado o interesse pela história de Qorpo-Santo que, à semelhança de outros
importantes artistas, foi considerado louco e não obteve reconhecimento em vida
pela sua produção literária. Qorpo-Santo era professor, escritor e dramaturgo, viveu
ao sul do Brasil no século XIX e produziu uma obra cujo valor para a literatura e o
teatro descobriu-se somente cem anos mais tarde. Tido como louco por alguns
membros da sociedade, o professor foi afastado das atividades no magistério e
interditado judicialmente. Porém, o processo de interdição, solicitado por sua
esposa, foi conturbado e controverso; em diferentes momentos, os juízes solicitaram
que Qorpo-Santo fosse examinado por médicos a fim de que emitissem pareceres
sobre sua sanidade mental. Foram muitos os médicos que o avaliaram, Qorpo-Santo
chegou inclusive a ser encaminhado ao Hospício Pedro II no Rio de Janeiro para ser
observado pelos alienistas mais influentes da época. A grande maioria destes
profissionais posicionou-se pela manutenção dos direitos do examinando de gerir a
própria vida e os bens, tendo em vista que gozava de saúde mental. A resolução
final da justiça, contudo, contrariando a opinião destes médicos, privou Qorpo-Santo
desses direitos. Definiu-se, então, como proposta para este estudo discutir as
concepções de loucura vigentes na sociedade brasileira da segunda metade do
século XIX e compreender o processo de fabricação da loucura em Qorpo-Santo,
tendo em vista as características da sociedade e das políticas de saúde da época
em que viveu. Primeiramente, a partir de uma revisão de trabalhos já publicados
acerca da situação da loucura no Brasil dos oitocentos, apresentam-se as mudanças
que ocorreram nesse período na forma como era entendida a loucura e com relação
às práticas sociais que lhe eram dirigidas. De uma realidade na qual os loucos
costumavam compor o cotidiano das cidades, passou-se para um contexto em que a
loucura começava a ser vista como um problema social e era enviada com
frequencia cada vez maior para as instituições; inicialmente, para as instituições de
caridade ou para as cadeias públicas e, depois, para os hospícios que se
espalharam pelo território nacional. A loucura acabou se tornando objeto da medicina que, pouco a pouco, alcançou hegemonia sobre esta problemática, embora
esse processo tenha ocorrido de forma distinta nas diferentes regiões do País. Ao
analisar a história de Qorpo-Santo e seus textos, percebeu-se que suas experiências
com relação à loucura se deram justamente nesse momento de transição no que
dizia respeito às concepções de loucura e das ações que se constituíam destinadas
a este público. Havia, por exemplo, disputas entre as diferentes autoridades que
procuravam se legitimar na definição dos destinos dos loucos. Num embate entre
diferentes poderes, tais como a família, a justiça e a medicina, Qorpo-Santo acabou
isolado na sua luta para demonstrar que não era louco e que não merecia ser
usurpado de seus direitos. Sua escrita foi o principal instrumento nesse
enfrentamento; pode-se compreendê-la como precioso relato de um sujeito que
resistiu às ações que insistiam em lhe sobrepujar.

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