SAÚDE DE AGRICULTORES DO ESPÍRITO SANTO: A complexa relação entre
produção de alimentos, exposição a agrotóxicos e risco à saúde humana

Nome: GLENDA BLASER PETARLI
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 06/09/2019
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
LUCIANE BRESCIANI SALAROLI Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
BRUNO PEREIRA NUNES Examinador Externo
EDSON THEODORO DOS SANTOS NETO Examinador Interno
ELIANA ZANDONADE Coorientador
LUCIANE BRESCIANI SALAROLI Orientador
MARIA CARMEN MOLDES VIANA Examinador Interno

Páginas

Resumo: Introdução: O trabalho agrícola apresenta fontes potenciais de agravos à saúde dos
trabalhadores rurais, como a crescente exposição a agrotóxicos. As transformações
decorrentes da mecanização e modernização das atividades agrícolas também
acarretaram consequências diretas nos aspectos físicos, psicológicos e estilo de
vida destes trabalhadores. Objetivos: Caracterizar a exposição ocupacional a
agrotóxicos, a percepção do risco, práticas de segurança e fatores associados ao
uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em agricultores, bem como a
prevalência e os fatores associados à multimorbidade, multimorbidade complexa e
depressão nesta população. Metodologia: Estudo epidemiológico transversal
analítico realizado com 790 agricultores do município de Santa Maria de Jetibá/ES.
A coleta de dados ocorreu de dezembro 2016 a abril 2017. Foi utilizado questionário
semiestruturado para coleta de dados sociodemográficos, contato ocupacional com
agrotóxicos, estilo de vida, condição clínica e satisfação profissional. Coletou-se
também dados antropométricos, bioquímicos e hemodinâmicos. Episódios
depressivos foram identificados por meio da Mini-International Neuropsychiatric
Interview. A multimorbidade foi definida como a presença de duas ou mais doenças
crônicas em um mesmo indivíduo e por meio do conceito de multimorbidade
complexa. Resultados: Foram citadas 106 marcas de agrotóxicos, 45 grupos
químicos e 77 ingredientes ativos. Houve predomínio do herbicida glifosato. Dos
agricultores com contato direto com agrotóxicos, aproximadamente 90% referiram
uso de produtos extremamente tóxicos, metade não lia rótulo dos agrotóxicos, mais
de um terço não observava o tempo de carência e 71,4% não utilizavam EPI ou
utilizavam de forma incompleta. Entre os fatores associados a não utilização desses
equipamentos destaca-se a classe socioeconômica (p=0,002), baixa escolaridade
(p=0,05), falta de suporte técnico (p<0,001) e não leitura dos rótulos (p<0,001). A
prevalência de multimorbidade foi de 41,5% (n=328) e de multimorbidade complexa
16,7% (n=132). Mais de 77% dos agricultores apresentaram pelo menos uma
doença crônica. Hipertensão arterial, dislipidemia e depressão foram as morbidades
mais prevalentes. Possuir 40 anos ou mais (OR = 3,33; IC95% = 2,06 – 5,39),
diagnóstico prévio de intoxicação por agrotóxicos (OR = 1,89; IC95% = 1,03 – 3,44),
perímetro da cintura elevado (OR = 2,82; IC95% = 1,98 – 4,02) e pior autoavaliação

de saúde (OR = 2,10; IC95% = 1,52 – 2,91) aumentaram significativamente as
chances de ocorrência de multimorbidade. As mesmas associações foram
encontradas para o diagnóstico de multimorbidade complexa. Com relação à
depressão, 16,8% (n=132) dos agricultores apresentaram sintomas de episódio
depressivo maior, sendo 6% (n=48) episódio depressivo atual e 10,7 % (n=84)
episódio depressivo maior recorrente. Os fatores de risco associados a esta
condição foram: ser separado/divorciado ou viúvo (OR = 2,29; IC95% = 1,12 – 4,70),
não ser proprietário da terra onde trabalha (OR = 1,79; IC95% = 1,10 – 2,91),
insatisfação profissional (OR = 1,89; IC95% = 1,11 – 3,23), histórico de intoxicação
por agrotóxicos (OR = 2,66; IC95% = 1,33 – 5,34), autoavaliação negativa de saúde
(OR = 3,14; IC95% = 1,97 – 4,98) e episódios depressivos prévios (OR = 7,77;
IC95% = 3,35 – 18,04). Conclusão: Os agricultores apresentaram exposição
ocupacional prolongada a múltiplos agrotóxicos, de elevada toxidade, referindo
práticas inseguras de manuseio. Identificou-se alta prevalência de multimorbidade e
de depressão nestes trabalhadores. Os fatores associados a estas condições são,
em sua maioria, passíveis de modificação e controle, como a exposição ocupacional
excessiva aos agrotóxicos. Políticas públicas são necessárias para prevenção,
controle e monitoramento das condições de saúde desta população.

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